Quantas memórias cabem em um copo?

Certa vez me disseram que o olfato é o sentido mais importante para formação das memórias. Eu concordo. Sentir um cheiro familiar, seja ele bom ou ruim, te faz viajar direto para aquele momento ou lugar que formou a lembrança. Uma passagem expressa que reconstrói cenários e personagens em uma história mágica  —  e assustadora de tão real.

Aquele perfume frutado do primeiro encontro, o toque doce do cheiro de amaciante da infância, o tão aclamado cheiro de terra molhada depois da chuva ou até mesmo o cheiro do Rio Tietê nas tardes de calor nas visitas aos tios em São Paulo. Tudo é lembrança, não importa se boa ou ruim, são traços da sua história e ninguém tira do seu repertório.

Tenho sentido essa viagem memorial também com objetos especiais. Canetas velhas, blusas rasgadas de tão usadas ou souvenir de viagens. É incrível o poder dos objetos em nossa vida. Antes que pensem que sou um acumulador da Discovery Channel, fiquem tranquilos que tento manter certo nível de equilíbrio excêntrico  —  meus médicos ainda confiam nessa premissa. Várias dessas coisas me transportam para momentos únicos.

Como investidor-anjo conheço muita gente com histórias espetaculares. Muitas vezes os empreendedores criam os objetos comemorativos de marcas importantes de suas empresas, como uma camiseta para o cliente número X ou canetas pelo faturamento Y. Lembro-me quando era criança quando meu pai recebeu um relógio pelos seus 20 anos de empresa  —  eu achei aquilo uma excalibur para o melhor cavalheiro da távola.

Logo, qual não foi minha surpresa ao receber um copo pela marca incrível conseguida por uma de nossas investidas. Era um ponto impressionante em seu crescimento e precisava de comemoração.

Cheguei em casa cansado depois de um dia daqueles e tirei o copo da mochila. Aqueles segundos admirando a forma daquele copo “diferentão” me tele-transportaram para alguns momentos especiais da minha vida.

Em segundos eu estava segurando um copo de plástico  —  perdoem os amigos ambientalistas  —  cheio de água, que caía pelas bordas por conta da tremedeira das mãos suadas, atrás de um palco escuro num teatro de palhaços. Eu estava prestes a entrar em cena como Palhaço Melancia e naquela noite eu pediria minha então namorada em casamento  —  foi nesse dia que nasceu também a Palhaça Mentira (muito boa para ser verdade, lembram?).

Lembrei-me ainda de um copo americano de vidro que puxei num brinde para um amigo em sua formatura. Na festa? Não, não, num bar xexelento de mesas de plástico com toda turma reunida. Logo surgiu viva, como na época, quando uma amiga usou um vaso de planta do arranjo que enfeitava as mesas da festa de casamento para puxar um brinde aos noivos e virar de uma vez todo seu conteúdo  —  sou uma lady, ela diria na manhã seguinte. Na sequência, encarei aquele copão, que já havia deixado de ser vaso há muito tempo.

Recordei-me ainda do copinho de plástico onde colocávamos o remédio para nosso primeiro filho. Dois pais de primeira viagem, assustados com as tosses carregadas daquele serumaninho, que tinha acabado de ter uma crise asmática, tínhamos colocado a bombinha e agora precisava do xarope para tirar o catarro dos pulmõezinhos. Como se fosse hoje, minhas mãos tremiam de medo e responsabilidade, e muito do líquido escorria pela minha mão e pelo chão. Ou ainda, o copo que encontrei na cabeceira do meu pai após sua morte. Teria sido ali seu último gole de água?

Quantas histórias cabem num copo, meus amigos? As recordações são fortes e vivas. Algumas vezes boas, por outras incômodas, mas ainda memórias. Elas nos formam, como moléculas que compõem nosso corpo, as histórias cravadas em nós, permitem que sejamos vivos. Seja para celebrar ou reviver, mantenha suas memórias vivas na sua mente e acesas no seu coração.

Por Léo Jianoti. Pai do João e do Bento, economista, educador e escritor amador.

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